No Manual
Antimissionário do Rabino Bentzion Kravitz, na pagina 13, está escrito:
“...Similarmente,
quando um missionário cita um verso das Escrituras Judaicas, temos de nos
certificar de que o versículo está sendo traduzido corretamente. Por exemplo, o
Salmo 22:17 da Bíblia Judaica quando traduzido corretamente lê-se: "Eles
cercaram minhas mãos e pés como um leão", referindo-se ao Rei David sendo
perseguido pelos seus inimigos, os quais são comumente citados como um leão
(como em Salmos 7 e 17). Contudo, quando lida fora de contexto e mal traduzida,
como "Eles furaram minhas mãos e meus pés", como aparece em versões
cristãs, a passagem intencionalmente faz evocar pensamentos sobre Jesus...”.
Vejamos então se as
afirmações do Rabino Bentzion Kravitz a respeito do Salmo 22.16 (17 no TM)
estão corretas.
O Texto Massorético
diz:
(um bando de) עֲדַת
(cães,) כְּלָבִים (me cercam) סְבָבוּנִי (porque) כִּי
(me rodeia,) הִקִּיפוּנִי (malfeitores) מְרֵעִים
(e meu pé) וְרַגְלָי (minha mão) יָדַי (como leão) ךָּאֲרִי
De fato, as
palavras כָּאֲרִי (kāʼărî) que encontramos no Salmo 22.16 (verso 17 no TM),
significam “como leão”, da mesma forma que em Nm 24.9; Is 38.13 e Ez 22.25,
isso é indiscutível. Mas foi o substantivo אֲרִי (ʼărî [leão]) que de fato foi
escrito originalmente ou a verbo כָּאֲרוּ (kāʼărû)? כָּאֲרוּ (kāʼărû) pode ser
uma variação arcaica de כָּרוּ (kāʼrû) que encontramos no Texto Massorético em
Sl 57.6; 119.85 e Jr 18.20,22, a diferença entre as duas palavras se dá
trocando a letra yud (י) que aparece no final de כָּאֲרִי (kāʼărî [como leão])
pela letra vav (ו) que aparece no final de כָּאֲרוּ (kāʼărû [eles cavaram]).
Sem as vogais kāʼărî se escreve assim כארי e kāʼărû se escreve assim כארו. A
letra vav (ו) forma a terceira pessoa plural do verbo no passado, que alguns
estudiosos dizem ser do verbo כָּרָה (kārāh) que significa: “cavar”, “escavar”,
“perfurar mediante escavação”, e que outros dizem ser da forma verbal da
palavra כּוּר (kûr) que significa “perfurar”, “traspassar”.
Foi assim que os
judeus tradutores da Septuaginta (a 1ª versão grega das Escrituras Hebraicas do
Antigo Testamento, feita em Alexandria, entre 250-150 a.C., visando a
conveniência dos judeus de língua grega), traduziram a Salmo 22.16 (21.17 na
LXX) de acordo com o que leram nos manuscritos hebraicos de sua época:
ὅτι (porque)
ἐκύκλωσάν (cercaram-) με (me) κύνες (cães) πολλοί, (muitos,) συναγωγὴ (um
ajuntamento de) πονηρευομένων (malfeitores) περιέσχον (rodearam-) με, (me,)
ὤρυξαν (eles cavaram) χει̂ράς (mãos) μου (minhas) καὶ (e) πόδας. (pés.)
Agora vejamos, no
Texto Massorético Hebraico, as palavras כָּאֲרִי (kāʼărî [como leão]), aparecem
no Salmo 22.16; Números 24.9; Isaías 38.13 e Ezequiel 22.25. Com a excessão do
Salmo 22.16, os tradutores da Septuaginta, traduziram as palavras כָּאֲרִי
(kāʼărî) em Números 24.9 como ὡς λέων (como leão), em Isaías 38.13 como ὡς
λέοντι (como leão) e em Ezequiel 22.25 como ὡς λέοντες (como leão). Isso só vem
a provar, que os tradutores da Septuaginta, sabiam muito bem qual era a
diferença que existia entre כארי (como leão) e כארו ou כרו (eles cavaram), que
certamente foi o verbo hebraico que eles encontraram no Salmo 22.16 (17 no TM)
na família de manuscritos hebraicos que eles estavam usando em sua tradução.
Alguns defendem as
traduções judaicas do Salmo 22.16 (17 no TM), dizendo o seguinte:
ὤρυξαν (cavaram) é
aoristo, indicativo, ativo, da 3ª pessoa do plural do verbo ὀρύσσω (cavar). E
da mesma forma que o verbo כָּאֲרוּ (kāʼărû) ou כָּרוּ (kāʼrû) não significa
“furar”, o verbo grego ὀρύσσω também não significa “furar”. A palavra aparece
37 vezes na Septuaginta e em cada caso o significado é sempre “cavar” (uma tumba,
um poço, um fosso, um buraco, etc.). Assim, uma tradução literal desta frase na
Septuaginta não é “...Eles perfuraram minhas mãos e meus pés...”, mas, “...Eles
cavaram minhas mãos e meus pés...”. Algo que não tem o menor sentido. Parece
pouco provável, que os tradutores da LXX, estavam tentando descrever a
crucificação ao traduzir o Salmo 22.16 (verso 17 no TM) com o verbo grego
ὀρύσσω (cavar). Segundo a argumentação judaica, se de fato os tradutores judeus
da LXX, quisessem exprimir o significado de “perfurar”, eles teriam usado o
verbo grego ἐκκεντέω (traspassar).
De fato, foi o
verbo ἐκκεντέω, que o escriba grego de João, usou em seu Evangelho (19.37),
para se referir a profecia do profeta Zacarias (12.10):
Ὄψονται (olharão)
εἰς (para) ὃν (quem) ἐξεκέντησαν. (traspassaram.)
(*) אֵת (para mim)
אֵלַי (E olharão) וְהִבִּיטוּ
(quem traspassaram) אֲשֶׁר־דָּקָרוּ
Observem que João
está citando o texto hebraico e não a tradução da Septuaginta, pois a
Septuaginta traduziu errado Zacarias 12.10:
καὶ (e) ἐπιβλέψονται
(olharão) πρός (para) με (mim) ἀνθʼ (porque) ὡ̂ν (*) κατωρχήσαντο
(insultaram-me)
O sentido correto
do texto hebraico foi adotado em traducões posteriores (Áquila, Teodósio e
Símaco), sendo essa também a forma que Inácio o cita (em Ep. Trall.10), como
também Justino Mártir (em Apol. 1.77). A epístola de Barnabé também concorda
com esta tradução. É quase certo, que os tradutores judeus da Septuaginta,
traduziram errado propositalmente o verbo hebraico דָּקָרוּ (traspassaram) pelo
verbo grego κατωρχήσαντο (insultaram), pois quem fala neste texto é YHWH, como
parecia para eles impossível Deus ser “traspassado”, isso os motivou a usar o
eufemismo “insultaram”, já que homens podem insultar a Deus, mas não
traspassá-lo. Infelizmente, eles não sabiam que Verbo iria se tornar carne e
armar tabernáculo entre nós (Jo 1.1,14).
Discordo da
argumentação judaica, pelos seguintes motivos: Se os tradutores da LXX
traduziram “...Eles cavaram minhas mãos e meus pés...”, é porque eles não
quiseram fugir do significado literal do verbo hebraico que eles estavam
traduzindo, que era כָּאֲרוּ ou כָּרוּ (eles cavaram), e por esse motivo, eles
traduziram pelo verbo grego equivalente, que era ὤρυξαν (eles cavaram). Se o
verbo hebraico fosse, por exemplo, דָּקָר (traspassar) eles teriam traduzido
pelo verbo grego equivalente que é ἐκκεντέω (traspassar). Além do mais, os
tradutores judeus da LXX, não estavam tentando descrever a crucificação, pois
eles sequer sabiam o que era isso, já que a execução por crucificação foi
criada muitos anos mais tarde pelos romanos, hoje é que nós sabemos que o Salmo
22, é um texto de duplo sentido, sendo também uma profecia messiânica,
descrevendo de forma precisa o momento da crucificação.
Quanto ao verbo
ὀρύσσω (“cavar”) também significar “perfurar”, sabemos que a Vulgata, em geral,
foi uma tradução do hebraico por Jerônimo, porém, a seção de Salmos nesta
versão não foi traduzida a partir do hebraico. O livro de Salmos na Vulgata é
uma tradução de Jerônimo a partir da Septuaginta, Jerônimo traduziu o Salmo
22.16 (21.17 na LXX) assim:
“Quonian (Porque)
circumdederunt (cercaram-) me (me) canes (cães) multi (muitos) concilium (uma
reunião de) malignantium (malfeitores) obsedit (sitiaram-) me (me) foderunt
(cavaram [ou] perfuraram) manus (mãos) et (e) pedes (pés) meos (meus)”
Jerônimo traduziu o
verbo grego “ὤρυξαν” (“cavaram”), pelo verbo latino “fōdērunt” que é terceira
pessoa plural perfeito indicativo de “fodio”, que significa tanto “cavar”
quanto “perfurar”. Sir Lancelot C. L. Brenton, traduziu ὤρυξαν por “they
pierced” (“eles perfuraram”), na sua tradução da Septuaginta para o inglês em
1851, no Salmo 22.16 (21.17 na LXX). É óbvio que “eles cavaram minhas mãos e
meus pés”, não tem sentido, pois o contexto imediato está mostrando claramente,
que neste texto, “cavaram”, tem o sentido de “perfuraram”.
Alguns eruditos
judeus dizem que nós temos apenas um palpite de que כָּאֲרוּ (kāʼărû) pode ser
uma variação arcaica de כָּרוּ (kāʼrû), porém, é um palpite bem convincente, no
livro de Salmos, o aoristo, indicativo, ativo, da 3ª pessoa do plural do verbo
ὀρύσσω (ὤρυξαν) aparece duas vezes, no Salmo 22.16 (21.17 na LXX) e no Salmo
57.6 (56.7 na LXX). Se no Salmo 57.6 ὤρυξαν está traduzindo כָּרָה (kārāh
[cavar]) na sua terceira pessoa plural do verbo no passado כָּרוּ (kāʼrû
[cavaram]), a possibilidade do mesmo ter acontecido no Salmo 22.16, é muito
grande, uma vez que agora temos a confirmação do pergaminho de Naḥal Ḥever, do
qual estaremos falando mais adiante.
Além do mais, o
aparato crítico da Biblia Hebraica Stutgartensia, na página 1104, nos dá o
seguinte resumo da evidência textual acerca da leitura do Salmo 22.16 (17 no
TM): Vemos que a maioria dos manuscritos hebraicos disponíveis apoiam a leitura
כָּאֲרִי (kāʼărî). Uns poucos, entre 3 a 10 manuscritos, apoiam a leitura
encontrada no pergaminho de Naḥal Ḥever, isto é, כָּאֲרוּ (kāʼărû), e dois
manuscritos apoiam a leitura כָּרוּ (kāʼrû). Isso prova duas coisas: 1º Os
cristão não inventaram a palavra כָּאֲרוּ (kāʼărû). 2º Existiam copistas que
acreditavam que כָּרוּ (kāʼrû) é uma forma recente da forma arcaica כָּאֲרוּ
(kāʼărû).
A Bíblia Hebraica
da Editora Sefer, uma tradução judaica em língua portuguesa, traduz assim o
Salmo 22.17:
“Cães me cercam,
uma turba de perversos me rodeia, atacam meus pés e minhas mãos como se fora um
leão.”
Como podemos ver, o
problema das traduções judaicas do Salmo 22.16 (verso 17 no TM), é que elas não
tem o mínimo sentido, a não ser que entendamos esse “...como...” como primeira
pessoa do presente do verbo “comer”, “...como leão minha mão e meu pé...”, pois
obviamente esta faltando um verbo. No caso da tradução acima, o verbo
“...atacam...” não se encontra no texto hebraico e foi inserido pelos
tradutores David Gorodovits e Jairo Fridlin, na tradução da Bíblia Hebraica (Sefer)
em Português, como vocês podem conferir na tradução interlinear, sentido
horizontal, logo acima.
Nós também
poderíamos pontuá-lo de forma diferente como sugere o Rabino Bentzion Kravitz:
“Porque me cercam
cães, um bando de malfeitores, me rodeia como leão, minha mão e meu pé.
Porém, um outro
motivo que nos leva a crer que אֲרִי (ʼărî [leão]) não seja a leitura original
do Salmo 22.16 (verso 17 no TM), é que é muito improvável que o autor tenha
usado duas grafias diferentes da mesma palavra, havendo apenas dois versículos
entre elas, pois no versículo 13 (verso 14 no TM), a palavra leão é escrita com
a grafia אַרְיֵה (ʼaryēh).
A designação “Texto
Massorético” (do latim “Textus Masoreticus” e do hebraico “Nussaḥ ham-Māsôrâ”),
é uma expressão criada e utilizada pelo mundo acadêmico. Tal denominação
refere-se a uma família de manuscritos hebraicos da Bíblia, da Idade Média,
sendo que todos apresentam notáveis semelhanças entre si. O Texto Hebraico
Massorético é a fonte primária de quase todas as traduções das Escrituras
Hebraicas do Antigo Testamento para vários idiomas no mundo. Os manuscritos
mais importantes que hoje representam o texto massorético são:
Códice de
Leningrado: Firkowitch I. B19a (L)
O Códice L, também
conhecido pelo título de Codex Leningradensis, ou ainda, oficialmente, como
Firkowitch I. B19a ou como EBP. I B19a, foi produzido por uma única pessoa,
Samuel ben Jacó, em 1008 ou 1009 d.C, no Cairo, no Egito. Este documento é o
mais antigo manuscrito massorético que contém a totalidade do texto da Bíblia
Hebraica. Além do texto bíblico, o Códice L possui anotações massoréticas. No
final de seu texto, existe uma listagem contendo 246 diferenças textuais entre
os massoretas ocidentais e orientais, uma recensão do tratado Diqduqê
ha-Ṭe‘amim, além de outras listas e dados massoréticos. Ocasionalmente, sua
massorá menciona autoridades massoréticas como Bem Asher, Ben Naftali, entre
outros massoretas. Além disso, o referido manuscrito menciona alguns códices
massoréticos perdidos (os códices Muga e Ma'zora’ Rabba’).
Códice de Alepo ou
Ms. Nº 1 do Instituto Ben-Zvi (A)
Esse códice
massorético é conhecido por diversos nomes: Códice de Alepo, Codex Alepensis,
no hebraico é conhecido como “keṯer ’ārām ṣôḇâ” , “Coroa de Alepo”), entre outros
nomes. Atualmente, pertence ao Instituto Ben-Zvi de Jerusalém, em Israel, sendo
designado como Manuscrito Nº 1. Teria sido escrito por Salomão ben Buya‘a e,
segundo a tradição massorética, também por Aarão ben Asher, entre 925 e 930
d.C, em Tiberíades, na Palestina. Ben Buya‘a teria escrito o texto consonantal,
enquanto Ben Asher teria se encarregado de colocar a vocalização, a acentuação
e as notas massoréticas. O manuscrito abrangia a Bíblia Hebraica inteira,
todavia, atualmente encontra-se em estado fragmentário. Seu texto começa com a
última palavra de Deuteronômio 28.17 e termina em Cântico dos Cânticos 3.11.
Além do texto bíblico, esse códice possui anotações massoréticas.
Códice da
Biblioteca Britânica: Oriental 4445 (B)
Este códice,
classificado como Oriental (inglês: Oriental, abrev.: Or.), faz parte da
coleção de antigos manuscritos hebraicos da Biblioteca Britânica de Londres, na
Inglaterra e seu texto abrange o Pentateuco de Gênesis 39.20 a Deuteronômio
1.33, porém, faltam vários trechos. O Códice B surgiu por volta do final do
século IX, sendo de procedência persa. Segundo os eruditos, o massoreta
responsável por sua composição teria sido, possivelmente, Nissi ben Daniel
ha-Kohen, o qual seria o responsável pela produção inteira do documento, compondo
o texto consonantal e adicionando a vocalização, a acentuação e a massorá. Até
o momento, não foram produzidas ainda edições fac-símiles ou outras do Códice
B. Contudo, desde 1990 Dotan dirige um projeto franco-israelense para uma
edição acadêmica do texto e da massorá do referido manuscrito.
Códice do Cairo dos
Profetas ou Códice Gottheil 34 (C)
O Códice C, chamado
de Codex Cairensis e, ultimamente, também de Códice do Cairo: Gottheil 34,
contém o texto dos Profetas Anteriores (de Josué a 2 Reis) e dos Profetas
Posteriores (de Isaías a Malaquias). O responsável por sua composição, segundo
a tradição massorética, teria sido Moisés ben Asher, em torno de 895 e 896.
Atualmente, pelos estudos mais recentes, o manuscrito é datado entre 990 e
1170. O Códice C pertence à sinagoga caraíta Mussa Dar‘i, do Cairo, no Egito.
Além do texto bíblico, o Códice C possui anotações massoréticas. Algumas vezes
sua massorá menciona autoridades massoréticas, como o rabino Moisés Moḥeh.
Talvez seja o manuscrito mais antigo dos profetas.
Códice
Petropolitano Babilônico ou Códice de Leningrado: Firkowitch I. B3 (P)
Este códice é
conhecido por diversos nomes: Codex Petropolitanus Babylonicus, Firkowitch I.
B3, EBP. I B3 e Códice P. Tal documento, pertencente ao acervo da Primeira
Coleção Firkowitch da Biblioteca Nacional Russa de São Petersburgo, contém os
livros dos Profetas Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas.
Segundo os estudiosos, é datado de 916 d.C, sendo composto na Babilônia. O
Códice P contém anotações massoréticas e sua vocalização é de tradição
babilônica, mas com nítida influência do sistema desenvolvido em Tiberíades.
Sua massorá também reflete misturas de tradições massoréticas e, praticamente,
é de configuração também tiberiense.
Códice Reuchliniano
ou Códice de Karlsruhe 3 (R)
Este documento é
conhecido pelos seguintes nomes: Codex Reuchlinianus, Códice de Reuchlin,
Códice de Karlsruhe 3 e Códice R. Surgiu por volta de 1105 e 1106 d.C, na
Itália e encontra-se, atualmente, em Karlsruhe, na Alemanha. Seu sistema de
vocalização massorética concorda mais com Ben Naftali do que com Ben Asher.
Além do texto bíblico e massorá, este manuscrito também contém o Targum de
Jônatas ben Uziel em alguns livros bíblicos. Edições: Alexander Sperber, The Prophets According to the Codex
Reuchlinianus (Leiden, 1969).
Já os manuscritos
hebraicos do Texto Consonantal Massorético (do hebraico “Ṭeqsǝṭ
Qǝḏam-Mǝsôrāṯî”), anterior à época dos massoretas, que recebem a denominação de
“Texto Protomassorético” ou de “Texto Protorabínico”, o qual não continha ainda
a vocalização, a acentuação e o aparato massorético desenvolvidos somente
durante a Idade Média, é uma das famílias de manuscritos da Bíblia Hebraica,
padronizado por volta do ano 100 d.C, mas que na época de Cristo convivia ao
lado, de pelo menos, outras duas famílias de manuscritos hebraicos: Uma
representada hoje pela Septuaginta Grega e outra representada pela Torá
Samaritana.
Geza Vermes, um dos
maiores especialistas em Manuscritos do Mar Morto, nos diz o seguinte no seu
livro “Os Manuscritos do Mar Morto”, Editora Mercuryo, na pagina 27:
“...Na realidade,
alguns dos fragmentos refletem aquilo que mais tarde se tornou o texto
massorético; outros se assemelham ao embasamento hebraico do Septuaginto grego;
outros ainda lembram a Torá samaritana ou o Pentateuco, a única parte da Bíblia
que os judeus de Samaria aceitaram como Escritura. Alguns fragmentos de Qumran
representam uma mistura desses, ou algo totalmente diferente. Deveríamos notar
que, porém, nenhuma dessas variações afeta a mensagem das Escrituras em si...”
No livro
“Introdução Bíblica” de Norman Geisler & William Nix, Editora Vida, nas
páginas 196 e 197 nos dizem o seguinte:
“...No entanto, há
uma questão grave no que concerne à Septuaginta: Há passagens em que ela difere
do Texto Massorético, e outras em que os rolos do Mar Morto concordam com a
Septuaginta, em oposição ao texto hebraico. Podem-se indicar várias passagens
que sublinham essa constatação, como Deuteronômio 32.8, Êxodo 1.5, Isaías 7.14,
Hebreus 1.6 (KJV) que cita Deuteronômio 32.43. Além disso, os rolos do mar
Morto também contêm alguns dos textos apócrifos do Antigo Testamento, como o
Salmo 151, só conhecidos mediante a LXX. A partir das evidências dessas
variantes de vários textos, podemos observar três tradições básicas do Antigo
Testamento: a massorética, a samaritana e a grega (LXX). Em geral o Texto
Massorético é o melhor, mas em várias passagens a LXX o supera. O Pentateuco
samaritano reflete diferenças sectárias e culturais em relação ao texto
hebraico, e a LXX é uma tradução, não um texto original. No entanto, quando
ambos concordam entre si, contra o texto massorético, é provável que reflitam o
texto original...”
É isso que muitos
não entendem, quando o Novo Testamento faz citações do Antigo Tentamento, o faz
baseado nas várias famílias de manuscritos hebraicos que conviviam
harmoniosamente no período do segundo templo, e não somente com base em uma
única família de manuscritos, hoje conhecidos como Protomassoréticos.
Anteriormente, os eruditos achavam, que as diferenças na Septuaginta,
resultavam de erros ou mesmo de invenções deliberadas dos tradutores. Agora, os
rolos do mar morto, revelaram que muitas das diferenças, realmente, se deviam a
variações nos manuscritos hebraicos. Isto explica alguns dos casos, em que os
primeiros crentes, citavam textos das Escrituras Hebraicas usando fraseologia
diferente do Texto Massorético. Por exemplo: Compare Êxodo 1.5 com Atos 7.14. É
importante lembrar, que segundo Shiffman, 60% dos manuscritos do mar morto
podem ser classificados como sendo do tipo Protomassorético, 20% são do tipo
Protomassorético, mas no estilo de Qunram, 5% são do tipo Protosamaritano, 5%
são do tipo Septuagintal e 10% não foram alinhados (L. Shiffman, Reclaiming the
Dead Sea Scrolls, Yale University Press; illustrated edition (2007). Sendo
assim, o Texto Massorético continua sendo o nosso texto base na representação
do original hebraico, mas temos que levar em conta, que em alguns lugares, a
Septuaginta e a Torá Samaritana (no que diz respeito aos livros de Moisés),
podem representar o que realmente estava escrito no original hebraico.
E sobre a profecia
não ser citada no novo Testamento?
Se o Salmo 22 nada
falasse acerca dos eventos que aconteceram durante crucificação, eu também
ficaria desconfiado, sobre a leitura do Salmo 22.16 realmente ser “eles
perfuraram”, porém, vejo que várias partes deste Salmo é uma profecia da
crucificação:
Salmo 22.1 * Mt
27.46 e Mc 15.34
Salmo 22.7 * Mt 27.43
Salmo 22.15 * Jo 19.28
Salmo 22.16 * Lc 24.39 e Jo 20.20,25,27
Salmo 22.18 * Mt 27.35; Mc 15.24 e Lc 23.34 e Jo 19.24
Foi encontrado um
manuscrito de Qumran, designado 4QPsf que tem os versos do Salmo 22.14-17. No
entanto, este documento não é legível precisamente neste ponto. Mas Ĕlôhîm em sua
providência, permitiu que fosse encontrado um pergaminho em Naḥal Ḥever, um
vale que fica a cerca de 30 km ao sul de Qumran. O documento é designado como
5/6ḤevPs e faz parte de uma coleção de cinco que foi descoberto pela primeira
vez em 1951 ou 1952, por Beduínos em Naḥal Ḥever em Israel. Os estudiosos não
examinaram este pergaminho até meados de 1990. Este pergaminho foi escrito em
escrita quadrada herodiana, datando entre 50 e 68 dC, e é mais de 1000 anos
mais antigo do que o representante mais antigo do Texto Massorético.
Finalizando, diante
do exposto até agora, o Salmo 22.16, tem 99,9% de chances de ser uma profecia
acerca da crucificação de Jesus.
Em anexo: Duas
imagens do pergaminho de Naḥal Ḥever, debaixo da 1ª imagem eu escrevi em ktav
ashuri quadrada herodiana (que é a mesma escrita usada no pergaminho) uma parte
do Salmo 22.16 onde também eu destaco nesta escrita as palavras כארי e כארו.
Shalom U Vracha (Paz e Benção)